Habitações com menos de 40m²
Desde a década de 1960 observamos uma tendência à redução dos espaços habitacionais, uma herança do modernismo que se tornou mais radical durante o movimento pós-moderno, tendo no Archigram e no Metabolismo japonês fortes ideias e exemplos.
Quando observamos atentamente nossas cidades contemporâneas, já constatamos uma forte tendência ao adensamento em áreas centrais, uma vez que são poucos ou quase nulos os terrenos localizados em áreas mais privilegiadas (com boa infraestrutura urbana) que possam abrigar, por exemplo, uma única moradia familiar. O que temos observado é que os espaços mínimos de moradia estão cada vez mais em alta no mercado imobiliário.
Mas o que são os espaços mínimos de moradia?
Esse conceito, como comentado acima, já era utilizado durante o movimento moderno, com o conceito de “existência mínima”, que nada mais é do que a redução do programa de necessidades da moradia ao mínimo necessário para o cotidiano familiar. Essa ideia se aprimorou ainda mais no período pós-moderno, quando vimos surgirem ideias de moradias com menos de 20m². E é esse o produto que tem sido alavancado no mercado imobiliário.
Como exemplo, temos vários empreendimentos habitacionais na cidade de São Paulo sendo entregues nos últimos 5 anos com menos de 40m². O exemplo a seguir é um projeto localizado no bairro Consolação, próximo a Rua Augusta e em frente ao Parque da Augusta.
O apartamento de 35m² possui apenas 1 dormitório, sala, banheiro, pequena cozinha de apoio e varanda. Essa planta não é a menor oferecida pelo empreendimento, que conta com unidades a partir de 24m². Nota-se que no programa de necessidades da unidade não há lavanderia, uma vez que o prédio conta com uma lavanderia comunitária que atenderá a todas as unidades do empreendimento.
Empreendimentos com essa metragem e localização estão sendo vendidos rapidamente no mercado. Somado ao baixo custo de manutenção/gasto com unidades de pouca metragem, a infraestrutura urbana do entorno faz a diferença, uma vez que existe uma infinidade de opções de lazer, comércio e transporte público nas proximidades.
O projeto encomendado ao escritório partiu do pressuposto de que a unidade de moradia seria colocada à locação completamente mobiliada e equipada. Para isso, teríamos que pensar em um estilo “coringa”, que atendesse a diferentes perfis de moradores. Fora isso, a ausência de um espaço para lavanderia (aonde, normalmente guardamos vassouras, rodos e baldes) deveria ser suprida por armários que possibilitassem esse armazenamento.
O projeto seguiu a linha industrial e optou pela remoção da parede que divide o espaço da sala/cozinha com o dormitório, permitindo maios amplitude espacial. Outro ponto adotado foi a incorporação da varanda na área da sala de TV, possibilitada pela remoção da porta de vidro inicialmente entregue pela construtora.
Todas essas alterações foram possíveis pois as unidades, internamente, contam com paredes de gesso e não de alvenaria, o que possibilita maior liberdade na hora de remodelar a planta.
Embora a parede de gesso tenha sido removida, colocamos painéis de deslizantes de madeira mdf(com trilho embutido no piso, evitando anteparos no piso), possibilitando a integração espacial e também a privacidade, caso necessário.
No projeto, o espaço da varanda possui um armário de apoio e mesa, possibilitando espaço para reuniões/refeições que não poderiam acontecer na cozinha, por sua restrição espacial. A cozinha, por sua vez, conta com geladeira, cooktop e forno microondas. Entendemos que esse modo de morar pressupõe que apenas pequenas e breves refeições serão elaboradas na cozinha, evitando assim a necessidade de um forno com maior potência.
A única torre desse empreendimento possui mais de 300 unidades habitacionais, o que certamente aumentará ainda mais o fluxo de pessoas na região e o fortalecimento do entorno próximo.
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